Cara comunidade científica, distintos senhor e senhora de bigode e prezada população em geral sem nenhuma característica particularmente fixe, comunico-vos os mais recentes progressos da nomenclatura de práticas medicinais. Esqueçam tudo o que já cheiraram com os olhos e o que já viram com o nariz. As parvoíces que vos enunciarei são tolas e tornam interessantes qualquer escova de dentes ou corta-unhas. Portanto ainda estão a tempo de desligar o computador, correr para a rua e gritar "Tenho um sardão dentro das calças!", podendo ainda acrescentar "E estou a gostar!", dependendo da intensidade do pânico e da aflição.
O novo tratado decreta o seguinte:
- Abolição do termo "massagem". Toda a prática de aplicação de força ou vibração sobre zonas de tecidos corporais, ou seja, toda a prática que envolva uma pessoa nua com uma toalha a tapar o que é importante e com a cabeça enfiada num género de tampo de sanita, passará a ser descriminada por "esfragação", numa alusão viva ao acto de esfregar e à tendêndia popular de dizer "esfragar".
- Introdução da técnica "respiração boca-orelha" criada por mim e testada na minha irmã, Rita Taparuere, por ocasião da cabeçada que deu na porta, desencadeando um choro intensivo que mereceu cuidados da minha parte. Apliquei-lhe, portanto, a "respiração boca-orelha" que se mostrou um sucesso, uma vez que a minha irmã começou de imediato a rir-se, esquecendo que instantes antes tinha ferrado a testa na porta. A técnica consiste na expiração junto da orelha, o que provoca "cócegas orelhais".
Continuando com as cócegas, a minha avó é perita em dizer coisas que me fazem cócegas à alma. A mais recente deu conta da existência da patalogia "Cirrose de Água". Estava eu a beber água, eis senão quando a minha avó me adverte para eu beber pouca água, porque corria o risco de apanhar uma "Cirrose de Água". Pelo que pude apurar, os mais antigos falavam nesta patologia especialmente quando alguém sofria de uma cirrose devido à ingestão de álcool. É triste saber que andavam a enganar os pobres bêbedos quanto ao conteúdo dos garrafões...
Hoje, fazendo luz ao pedido (aviso ameaçador) da minha professora de português (mulher temível), fui comprar o "Memorial do Convento". Enquanto me dirigia à livraria, pude observar uma exposição para noivos onde estava exposto uma mesa padrão de copo-de-água com uma toalha que me fez lembrar as mantas que cobrem os caixões, devido à sua cor roxa e ao bordado dourado. Talvez tenham incorporado detalhes da moda fúnebre na nova colecção, muito fashion na minha parva opinião. Quando encontrei o livro na prateleira, susti a respiração, esperavam-me 493 páginas de leitura atenta, pelo que me detive a pensar sobre a experiência de leitura. Afinal, o Saramago não ganhou o Nobel por dar umas voltas com uma sueca da Academia, logo a leitura não seria assim tão má. Ironia ou não, sou uma apaixonada pela leitura e pela escrita e, como prova do meu amor, enviar-lhes-ei um ramo de rosas vermelhas e chocolates, mas talvez elas prefiram uma noite num quarto de MOTEL com um colchão de água... Oh! Que dilema!