JÁ FUMEGA MARIA PANELA!

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Quinta-feira, 20 / 05 / 10

Take 1 – A Mulher Do Leme

 

Eu sou do tamanho dos meus sonhos e da minha vontade e sou enorme aos olhos da liberdade, mas toda e qualquer grandiosidade se reduz pelas escolhas que tomamos.

 

Quando acordei para os meus 18 anos, toquei o limiar da realização plena. No dia do aniversário, as minhas emoções foram tecendo as lágrimas com a força de quem varre, num único arrasto, a areia de todas as praias. As rosas que a minha mãe começou por me oferecer seriam o presságio de que “a mulher do leme” perderia os remos e o rumo, naquele dia. O fio de presentes foi-se desenrolando e, onde estava um nó cego, surgiu uma obra de quem cego de amor estava. Um amigo meu foi até minha casa e deu-me um quadro desenhado com a minha imagem. Artisticamente, era belo, tanto pelo traço, como pela textura. Um gesto singular que se alojou no meu coração. Pensei na altura ser a rapariga mais feliz, mais completa que alguma vez existira, porque uma demonstração de afecto como aquela merecia estar no topo de uma montanha onde o céu se enrola na terra.

 

Continua…

publicado por Maria Panela às 00:37
Quinta-feira, 29 / 04 / 10

Acesso Negado

Últimos dias, últimos e múltiplos encantos, coisas que fazem lembrar a magia da feijoada transmontana que produz um festival sonoro de fazer inveja. É bom saber que o meu humor, aos poucos e pouquinhos e pouquíssimos, está a recuperar do grave acidente que sofreu, nomeadamente uma crise emocional. Se me perguntarem onde está o amor e todos os estados depressivos inerentes, responderei que estão numa praia qualquer no Brasil, a bronzearem-se, enquanto eu estou nos prados da Irlanda a ver as vacas pastar.


Bem, falando de coisas sérias, vi há dias um avião militar e pareceu-me que transportava comida. Cheguei a tal conclusão por via do seguinte raciocínio:

Asas Abertas = Plenitude = Felicidade = Comida

Por conseguinte, ocorreu-me posicionar-me de forma a poder receber, em segurança, dois ou três sacos de arroz, sem que um indivíduo de raça negra me arrancasse uma perna. Mas o arroz não choveu e eu fiquei, naturalmente, desapontada. Porém, uma questão maior elevou-se e sacudiu-me a alma (se alguém encontrar vestígios de uma alma parva é favor de devolver): como é que os africanos cozem o arroz, se a maior parte das vezes não dispõem de água? A receita talvez seja assim:

Corra rapidamente para a área envolvente da zona de alcance do avião. Jogue, se necessário, algumas pessoas ao chão. Quando o arroz descer dos céus, aproxime-se rapidamente do maior número possível de pacotes e lembre-se que tem entre 15 a 20 bocas para alimentar. Depois de já ter consigo o arroz, fuja para a sua barraca onde encontrará mulheres que poderão confeccionar o arroz. Escolha uma mulher, ela terá de colocar o arroz sob o calor esturnicante, uma vez que ele é pré-feito. Espere 10 minutos, numa potência variável entre os Watts que quiser e as quecas que entender, com uma outra mulher que lhe serve de entrada. Quando o arroz for servido, guarde a maior porção para si.


Falando ainda de coisas mais sérias, um amigo meu dirigiu-se a uma vendedora de perfumes e disse-lhe o seguinte "Queria um perfume activo e intenso". Apeteceu-me dizer "Sai um frasco de suor de cavalo, por favor".


Estive na praia com amigos, depois das aulas. O sinal mais evidente de que estive na praia na praia é o meu cabelo que parece nunca ter conhecido champoo na vida. Ainda assim, pude bronzear a toalha e salgar as pernas.


Entraremos, agora, numa área restrita e confidencial, introduza, portanto, a palavra-passe para ler o que se segue.

ACESSO NEGADO

publicado por Maria Panela às 00:07
Segunda-feira, 19 / 04 / 10

Bídon de Champôo

Adorava ser como um frasco de champôo de 900 mL que perdurasse, perdurasse, perdurasse infinitamente na casa-de-banho do Senhor Anatalino Reguete. Tal desejo comporta a necessidade de lhe limpar os cabelos em profundidade, nutri-los, preenche-los e deixá-los incrivelmente sedosos. Talvez assim a Maria Dores Pança pudesse juntar as suas três galinhas com o galo do Anatalino, numa só capoeira. Talvez assim contribuísse para a construção do amor no mundo... Já que não consigo sequer construir o meu próprio amor. Já que estou impedida de ser amada. Alguém que ame aquilo que é, aquilo que tem, aquilo que há-de ser e mais além e mais além, mesmo que para isso seja necessário um champôo, uma lavagem ao corpo e à alma.

publicado por Maria Panela às 23:32
Terça-feira, 30 / 03 / 10

Dissertação Sobre Um Bolo Em Forma De Pénis

Assisti a uma demonstração de arte culinária que me perturbou imenso. Era uma estrutura de bolo de chocolate, envolta numa camada de açúcar de cobertura. Ostentava a imagem real de um pénis erecto. Toda a cobertura fora pintada de acordo com as cores naturais dos órgãos genitais, tanto no pénis, como nos testículos delicadamente coloridos de castanho e com pequenos riscos pretos a retratar o belo do pintelho. Naquelo caso, considerei que o pénis pertencia a um homem de raça branca, uma vez que era cor-de-rosa e conseguia ocupar um só tabuleiro. Os pormenores eram avassaladores, desde a veia saliente do pénis, até aos traços realistas da sua cabeça, passadando também pelo aglomerado pinto-capilar superior. O artista (prefiro não lhe chamar pasteleiro, porque um pasteleiro está limitado aos pastéis de nata e afins) retratou, ainda, o momento da ejaculação, anexando ao oríficio do pénis um creme branco.

Pergunto-me quantos milhões o Berard estaria disposto a pagar pela obra, do género:

"Quante quere plo animale?"

"Depende do fim que lhe dará, do estatuto que terá na sua Galeria..."

"E se a Galeria for no interiore das minhas pantallones? Focke You"


Questiono-me, ainda, sobre outra coisa. Que origem teve a imagem tão realista e perfeita de um bolo em forma de pénis? Terá sido resultado da experiência apurada ao longo dos tempos pelo pasteleiro-artista ou do emprego de um molde natural? Quando trinquei o bolo, tentei não me deter nestas questões, evitando o perigo de provocar um suicídio cerebral.

Curioso foi o facto de os homens presentes terem sido os que mais mostraram interesse por comer, consomando, por fim, essa vontade. Talvez, enquanto mastigavam, pensavam "Queria ter um igual...", enquanto que as raparigas reflectiam da seguinte forma "Para quê comer às fatias, quando se pode comê-lo inteiro?". Agora exagerei na maliciosidade (poupo-vos à crítica...).


Mais tarde, num bar, pude presenciar outra cena intrigante. Um homem subiu para uma mesa e começou a dançar, simulando que estava a despir-se. Por sua vez, um grupo de rapazes rodeou a mesa e pressionaram o pobre bebedo, no sentido de ele tirar mesmo as calças. Ora, o que é que me ocorreu no momento? Que aquele grupo de indíviduos simbolizava a tribo que pratica o ritual de guardar capas da revista "Men's Health" debaixo do colchão.

Que apreciação faço eu disto? Que bem que poderia integrar a tribo deles, não fosse o facto de todos eles serem homens e gostarem de se olhar de costas... A verdade é que o meu colchão foge à tradicional estrutura ortopédica, uma vez que ele é o resultado da cimentação de capas da revista "Men's Health" ao longo dos séculos. A mais velha data de 1230 e pertenceu à minha tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra tetra da tetra da tetra da tetra tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra da tetra tetra da tetra da tetra da tetra tetra da tetra da tetra tetra da tetra avó. O modelo que figurava era um guerreiro cruzado sedutor, com uma barba farta e cicatrizes na cara, com a espada numa mão e com um mouro seguro pelo colarinho na outra. Já não se fazem homens desses...

publicado por Maria Panela às 01:14
Sábado, 27 / 03 / 10

Espantalhos-Que-Se-Mexem-E-Que-Espantam-Pessoas

11:41

O telemóvel toca. As tecnologias que nos acordam merecem uma passagem directa para a sanita.

 

"Estou?"

 

"É a rita"

 

"Ah! Olá Rita, então?"

 

Nínguém responde...

 

"Rita?"

 

Continua sem responder. Que brincadeira é esta? Até que…

 

"Ah!!! Não és a Rita, queres é falar com a minha irmã Rita."

 

E finalmente a outra pessoa responde e confirma que eu tenho um poder absurdo de me confundir debaixo dos lençóis.

 

14:02

Alguém entra no meu quarto, pelo que acordo. Faço que estou a dormir. É a minha irmã. Ela salta para cima de mim e diz “Acorda, mana!” Com a cabeça enterrada na almofada, murmuro “Vais ser desterrada!”

 

14:05

Já não consigo adormecer de novo.

 

Penso nos acontecimentos que marcaram o dia anterior.

 

A minha prestação como girassol abriu-me portas para a Academia Nacional de Representação Deprimente e para a Secção Universal de Espantalhos-Que-Se-Mexem-E-Que-Espantam-Pessoas. Estão a chover telefonemas de solicitação para eu interpretar cerejeiras, porco preto alentejano, microondas…

 

A apresentação do trabalho correu melhor, não tropecei no que disse, pelo que o meu futuro passa pelos palcos sem luzes, nem orquestra, nem guarda-roupa que me faça parecer malabarista de circo dos anos 40.

 

Já de noite, a conversa mudou. Passei da representação eloquente para a vida real e dramática (sem um girassol na cabeça, mas com os impulsos virados para o sol).

 

Estava escuro, ele puxou-me para junto dele e agarrou-me, determinado. Algo fugiu ao nosso controlo, mas antes de o beijo de consumar, separei-me dele. Timming perfeito, visto que alguém apareceu a seguir. O que restou disto? Dois corações a bater estupidamente depressa, desejando um final diferente. A vida é mesmo o melhor palco para fazer teatro…

 

18:30

Tempo para tomar banho e sair até que o Sol nasça.

publicado por Maria Panela às 18:29

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