11:41
O telemóvel toca. As tecnologias que nos acordam merecem uma passagem directa para a sanita.
"Estou?"
"É a rita"
"Ah! Olá Rita, então?"
Nínguém responde...
"Rita?"
Continua sem responder. Que brincadeira é esta? Até que…
"Ah!!! Não és a Rita, queres é falar com a minha irmã Rita."
E finalmente a outra pessoa responde e confirma que eu tenho um poder absurdo de me confundir debaixo dos lençóis.
14:02
Alguém entra no meu quarto, pelo que acordo. Faço que estou a dormir. É a minha irmã. Ela salta para cima de mim e diz “Acorda, mana!” Com a cabeça enterrada na almofada, murmuro “Vais ser desterrada!”
14:05
Já não consigo adormecer de novo.
Penso nos acontecimentos que marcaram o dia anterior.
A minha prestação como girassol abriu-me portas para a Academia Nacional de Representação Deprimente e para a Secção Universal de Espantalhos-Que-Se-Mexem-E-Que-Espantam-Pessoas. Estão a chover telefonemas de solicitação para eu interpretar cerejeiras, porco preto alentejano, microondas…
A apresentação do trabalho correu melhor, não tropecei no que disse, pelo que o meu futuro passa pelos palcos sem luzes, nem orquestra, nem guarda-roupa que me faça parecer malabarista de circo dos anos 40.
Já de noite, a conversa mudou. Passei da representação eloquente para a vida real e dramática (sem um girassol na cabeça, mas com os impulsos virados para o sol).
Estava escuro, ele puxou-me para junto dele e agarrou-me, determinado. Algo fugiu ao nosso controlo, mas antes de o beijo de consumar, separei-me dele. Timming perfeito, visto que alguém apareceu a seguir. O que restou disto? Dois corações a bater estupidamente depressa, desejando um final diferente. A vida é mesmo o melhor palco para fazer teatro…
18:30
Tempo para tomar banho e sair até que o Sol nasça.